Tem sido identificado com o nobre sevilhano Alonso Fernández Cebollilla, um dos vassalos do magnate castelhano Alfonso Pérez de Gusmán que o acompanharam no seu exílio marroquino nos finais do século XIII. A sua época de atividade deverá situar-se, pois, entre os anos finais do reinado de Afonso X e os inícios do século XIV. Não dispomos, no entanto, de mais nenhuma outra informação sobre este autor.
Marroni, Giovanna (1970), "Afonso Fernández Cebolhilha e il suo minuscolo canzoniere", in Studi Mediolatini e Volgari, XVIII.
http://cantigas.fcsh.unl.pt/autor.asp?cdaut=4&pv=sim
Mui gram sabor havedes, mia senhor,
que nunca perca coita nem pesar
eu, que vos sei mais doutra rem amar,
pois nom queredes que fale no bem
5 que vos Deus fez; ca nom posso perder
mui gram coita, pois nom ous'a dizer
o muito bem que vos Deus fez, senhor.
Ca, pois nom queredes vós, mia senhor,
que fale no bem que vos Deus quis dar,
10 sempr'haverei muit'estranho d'andar
dos que ham de falar em algum bem;
ca senom nom haveria poder,
quand'eu d'algum bem oísse dizer,
de nom falar no vosso bem, senhor.
15 Ca tam muit'é o vosso bem, senhor,
que eu nom cuido, nem posso cuidar,
que se podesse nulh'homem guardar,
que vos viss'e soubesse vosso bem,
que, se oísse em algũa sazom
20 alguém falar em algum bem, que nom
....................................[senhor].
Nota geral:
O trovador lamenta que a sua senhora não queira que ele fale dela e das suas qualidades e sofre com essa proibição: por um lado, por lhe custar ficar calado sobre ela quando ouve elogiar as qualidades de alguém (2ª estrofe); por outro lado (3ª estrofe), por ter a certeza que essas qualidades seriam reconhecidas por todos.
http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=379&pv=sim
Senhor fremosa, des quando vos vi
sempr'eu punhei de me guardar que nom
soubessem qual coita no coraçom
por vós sempr'houv'; e pois Deus quer assi,
5 que sábiam todos o mui grand'amor
e a gram coita que levo, senhor,
por vós, des quando vos primeiro vi.
E pois souberem qual coita sofri
por vós, senhor, muito mi pesará,
10 porque hei medo que alguém dirá
que sem mesura sodes contra mi,
que vos amei sempre mais doutra rem,
e nunca mi quisestes fazer bem,
nem oir rem do que por vós sofri.
15 E pois eu vir, senhor, o gram pesar
de que sei bem que hei mort'a prender,
com mui gram coita haverei a dizer:
"Ai Deus! por que me vam assi matar?"
E veer-m'-am mui trist'e sem sabor
20 e por aquesto entenderám, senhor,
que por vós hei tod'aqueste pesar.
E pois assi é, venho-vos rogar
que vos nom pês, senhor, em vos servir
e me queirades, por Deus, consentir
25 que diga eu atant', em meu cantar:
que a dona que m'em seu poder tem
que sodes vós, mia senhor e meu bem,
e mais desto nom vos ouso rogar.
Nota geral:
O trovador, que garante sempre ter evitado mostrar a dor que o amor à sua senhora lhe causa (1ª estrofe), receia que, se o seu estado for descoberto, alguém a considere cruel, por assim tratar tão rigorosamente quem tanto a ama (2ª estrofe); até porque, estando às portas da morte, será fácil a todos entenderem que é ela a causadora de tal sofrimento (3ª estrofe). Assim sendo, ele pede-lhe, por fim (4ª estrofe), que o deixe ser seu servidor e que lhe permita cantá-la nas suas composições.
http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=378&pv=sim
Lopes, Graça Videira; Ferreira, Manuel Pedro et al. (2011-), Cantigas Medievais Galego Portuguesas.
Lisboa: Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA.
Disponível em http://cantigas.fcsh.unl.pt